Brasil sedia o Fórum Mundial de Ciência em 2013
O Rio de Janeiro vai sediar, em novembro de 2013, o Fórum Mundial de Ciência, criado em 1999 para discutir ciência, tecnologia e inovação e que é realizado a cada dois anos em Budapeste, na Hungria. Nesta edição, o evento – que conta com o apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) – terá como tema “Ciência para o desenvolvimento global”.
Como parte da preparação para o evento, serão realizados sete encontros onde serão discutidos temas relacionados aos principais desafios da ciência no século XXI, e, ainda, temas como educação em ciência, difusão e acesso ao conhecimento e interesse social, ética na ciência e ciência para o desenvolvimento sustentável e inclusivo. O primeiro encontro ocorre em São Paulo de 29 a 31 de agosto deste ano. De 29 e 30 de outubro, é a vez de Belo Horizonte. Em novembro, Manaus receberá um dos encontros preparatórios. Em dezembro, o encontro ocorre em Salvador. Em 2013, outros três encontros preparatórios serão realizados nas cidades de Recife, Porto Alegre e Brasília.
Ao final do debate, uma publicação consolidará as proposições e principais conclusões das discussões realizadas no “Fórum Mundial de Ciência”.
World Science Forum / Fórum Mundial de Ciência no Brasil deve estimular novo modelo de desenvolvimento nacional
A realização do Fórum Mundial de Ciência no Brasil representa um marco na vida científica brasileira e deve estimular a transição do País para um novo modelo de desenvolvimento. Esse foi o tom do discurso de autoridades, pesquisadores e representantes de entidades científicas que participaram da abertura do primeiro dos sete encontros preparatórios para a sexta edição do Fórum Mundial de Ciência. Essa é a primeira vez em que o evento bianual internacional, criado em 1999, é realizado em um país fora da Hungria.
O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, declarou que os esforços são para que a ciência brasileira seja protagonista do desenvolvimento sustentado do País e ganhe destaque no cenário internacional. "O Brasil segue em direção à nova economia, cujos pré-requisitos são competitividade e sustentabilidade, o que só se alcança com o uso intensivo do conhecimento científico e tecnológico", disse o ministro na tarde de 29 de agosto, na sede da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), em São Paulo, onde o encontro acontece até 31 de agosto e tem como tema: "Ciência para o desenvolvimento global: da educação para a inovação construindo as bases para a cidadania e o desenvolvimento sustentável."
O ministro compartilhou a mesa de abertura do evento com a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Acadêmica Helena Nader; o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC); Jacob Palis; e Acadêmico o presidente da Fapesp, Celso Lafer; José Arana Varela, diretor-presidente do Conselho Técnico Administrativo da Fapesp e o Acadêmico Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor-científico da Fapesp, representando o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap). A Comissão Executiva Nacional do Fórum é formada por órgãos como MCTI, CNPq, Finep, CGEE, ABC e SBPC, dentre outros.
Segundo a presidente da SBPC, a proposta do Fórum é promover uma discussão da ciência nacional com o olhar para o mundo, com foco na "educação e ética na ciência". O diretor científico da Fapesp, Brito Cruz (na foto à direita), por sua vez, considerou fundamental discutir a complexidade da ciência. "A ciência é uma coisa complexa porque tem muitas características, visões diferentes e contradições. É importante discutir isso de maneira atenta aqui", disse, reconhecendo que o encontro não deve resolver os problemas, mas deve fazer entender como funciona a ciência no País. Já o presidente da ABC (no centro da foto) acredita que a ciência brasileira, igualmente a da América Latina, deve ganhar visibilidade no cenário internacional diante da realização do Fórum Mundial no País. "Isso é muito significativo e indica que conquistamos legitimidade no mercado internacional", declarou Palis.
Produção científica nacional
Mesmo que em ritmo modesto, o ministro destacou o potencial e o avanço da produção científica no Brasil nos últimos 20 anos. Com base em dados da consultoria Thomson/ISI, Raupp citou a existência de cerca de 235 mil pesquisadores brasileiros em atividade, responsáveis pela publicação de 32,1 mil artigos em periódicos internacionais em 2009 - o equivalente a 2,69% do total mundial, enquanto em 1990 os artigos dos pesquisadores brasileiros publicados somavam 3,539 mil - ou 0,63% da produção mundial.
"Apesar de sua juventude e de percalços sofridos ao longo do processo de sua construção, o ponto fundamental é o de que o Brasil conta hoje com um amplo e dinâmico sistema de produção científica", declarou Raupp, explicando que o universo científico brasileiro começou a existir de maneira organizada na década de 1930 com a criação da Universidade de São Paulo (USP).
Ciências agrárias
Dentre as atividades científicas mais dinâmicas no País, conforme os dados do ministro, o destaque são as ciências agrárias, cujos pesquisadores respondem por quase 10% (9,89%) da produção científica mundial nessa área. "Por uma razão direta com essa elevada produção de novos conhecimentos científicos e tecnológicos a agricultura brasileira é uma das mais produtivas, modernas e sustentáveis do mundo, o que dá a ela condições de abastecer o mercado interno e também, ao exportar, de contribuir significativamente para o bom desempenho da balança comercial brasileira", declarou. A estimativa do ministro é de que o desempenho positivo das ciências agrárias seja estendido para outras áreas, como nanociência e nanotecnologia, energias renováveis e tecnologia da informação - também estratégicas para o desenvolvimento do País.
Setor privado
O diretor científico da Fapesp, Brito Cruz, concorda com o avanço da área de ciência e tecnologia nacional. Conforme ele, uma das principais mudanças na ciência brasileira é o aumento do papel das empresas nas pesquisas. Por exemplo, em São Paulo, disse Brito Cruz, o setor privado responde por mais de 60% dos dispêndios nas pesquisas científicas. Em 2011, os investimentos em pesquisas no estado paulistano somaram R$ 21 bilhões, dos quais R$ 13 bilhões foram realizados pelas empresas.
Cientista americano destaca os desafios da ciência para o século XXI
O século XXI é um dos mais desafiadores para humanidade diante das mudanças climáticas e degradação da terra em meio ao crescimento da população mundial que precisa de garantia de alimentos, de água com qualidade e energia. "Teremos de enfrentar, nessa transição, a degradação da terra e a preservação de ecossistemas e espécies. E esses desafios terão de ser enfrentados pela ciência", acrescentou o presidente da Rede Interamericana de Academias de Ciências (Ianas) e professor da Universidade da Califórnia (EUA), Michael Clegg, em videoconferência realizada no final da sessão de abertura do evento. Com o tema "O papel das redes de Academias de Ciências", a palestra de Clegg foi realizada por videoconferência em razão do furacão Isaac, que atrapalhou sua vinda ao Brasil.
Ao abordar o tema de sua palestra, o cientista fez uma pergunta. "Por que a voz da ciência é tão importante para o futuro?". Em seguida ele respondeu: "A resposta é porque a ciência é a forma mais aceitável de criação de conhecimento que lida, exclusivamente, com a forma com que os eventos acontecem; sempre precisando ser confirmada, reproduzida e sempre baseada nas evidências". Segundo ele, a evidência e a previsibilidade são os maiores valores da ciência.
O presidente da Ianas destacou que a ciência é também uma atividade social e considerou fundamental a ética na ciência. "O sistema ético da ciência é também crucial para o bem estar da humanidade no futuro. A ciência permite uma abertura e respeito pelo próximo e pela evidência". Clegg discorreu sobre o papel das redes de Academias de Ciência que, segundo ele, têm de ter credibilidade para levar ao público informações sobre políticas de ciência e tecnologia para solucionar os problemas da sociedade; e sugerir programas educacionais para vários segmentos.